sábado, 11 de setembro de 2010

Ser comunidade, para ser igreja…

Gosto muito de sonhar. E os sonhos que mais me encantam são os que me acontecem quando estou acordado, porque esses fazem-me arregaçar as mangas e lutar por eles.
Estes sonhos comprometem-me…
Assumo-os como projecto e ganho razoes para lutar, e ganho uma mão cheia de bons motivos para sorrir…

Há uns tempos, dei comigo a sonhar que a minha Igreja era mais parecida com o que Jesus Cristo a chama a ser…
Sonhei que todos os cristãos do mundo, todos os que somos Igreja, nos tínhamos de novo sentado aos pés de Jesus, no cimo de um monte qualquer, como bons discípulos que bebem das palavras do mestre os segredos fundamentais das suas vidas.
Quando sonhei, vi uma multidão de homens e mulheres de todas as raças, línguas e nações, unidos em torno da mesma Fé. No meu sonho, fiquei a espreitá-los demoradamente, e apercebi-me que todos se amavam, todos se sentiam conhecidos e seguros entre si.
Dei-me conta facilmente que eram muitos mas não se deixavam engolir pela lógica da multidão!
Eram muitos, mas não eram uma massa incógnita de gente desconhecida. Sorri, então, ao dar-me conta de que a “Igreja da Multidão” não existia mais, e se tinha convertido numa Universal Comunhão de Comunidades! A Igreja voltava ao ritmo comunitário com que tinha nascido. Todos percebiam que a Igreja não é uma lugar sagrado, mas uma Comunidade Consagrada, a comunidade dos que escutam as palavras de Jesus: “Onde dois ou mais se reunirem em meu Nome, eu estarei com eles…” (Mt 18, 20).

Todos se percebiam como “Pedras Vivas” da Igreja que formavam (1Pe 2, 5).

Na comunidade todos os olhares se cruzavam, todos os rostos se saudavam e todas as vidas se enriqueciam mutuamente. Ninguém se sentia a mais, nem desnecessário. Todos tinham vez e voz, todos eram participantes. Por isso eram comunidades vivas, que meditavam, oravam e celebravam ao jeito de Jesus de Nazaré.
Nesta Igreja de Jesus Renascida, a Igreja dos meus sonhos, as celebrações da Fé eram espaços privilegiados de libertação, encontro com Deus e com os irmãos, recomeço de vida.
Não havia classes ou elites mais importantes que outras. Todos eram fundamentais para tudo; porque tudo era de todos… Todos se sentiam sujeitos responsáveis pela vida da comunidade. Por isso, a Igreja era animada pela diversidade dos carismas de todos. Todos sabiam que os carismas não são dons caídos magicamente do céu, mas as suas próprias qualidades e capacidades postas ao serviço dos irmãos.

Cada um era reconhecido e amado na sua originalidade. Todos se sentiam acolhidos nas suas diferenças, o que possibilitava que todos estivessem em permanente dinâmica de amadurecimento interior.
Todos eram verdadeiramente exigentes consigo próprios, e tolerantes com os irmãos.

Não consegui ver, durante todo o tempo que durou o meu sonho, ninguém que me parecesse medíocre, ou vaidoso. Ninguém impunha as suas ideias, mas ninguém deixava de as partilhar e propor.
Quando partilhavam entre si as suas vidas à luz da Palavra de Deus, faziam-no sem reservas, sem inseguranças e sem piedosas superficialidades. Deixavam-se pôr em causa pela Palavra, deixavam-se provocar por ela, levavam Deus a sério e acolhiam os irmãos como sua mediação.

Quando falavam de Deus nunca precisavam de debitar doutrinas. Pareceu-me que nem as tinham!
Nem precisavam… Não precisavam de doutrinas aprendidas, porque saboreavam a Verdade de Deus experimentada na própria vida e amadurecida em diálogo comunitário.
Conversavam de Deus com um brilho intenso no olhar e com um entusiasmo contagioso nas palavras. Deus era o centro das suas vidas, o mais importante dos seus dias. Falavam dele como o melhor que lhes tinha acontecido…

E quando oravam… ó amigo, que diferença!...
Quando oravam pousavam tudo, e fechavam os olhos com ar de quem tem uma confidência importante a fazer. E tinham…
Começavam a conversar com Deus como se conversa com o melhor amigo, em profunda intimidade, verdade e realidade. Não lhes escutei nem uma única frase feita! Na sua relação com Deus, todos tinham dado o salto do “Ele” ao “Tu”. Ninguém disse nada decorado, ninguém disse palavras mágicas… Todos sabiam que a “magia” de Deus acontece ao nível do coração que se deixa encontrar por ele…

Eu lembro-me que me senti apaixonado por esta Igreja…
Onde cada um tinha a sua função, segundo o seu carisma, e todos se sentiam verdadeiramente como membros vivos do Corpo de Cristo no mundo. Todos percebiam que ser o Corpo de Cristo Ressuscitado no mundo, significa tornar-se mediação de encontro entre Cristo e todos os Homens do mundo que ainda não o conhecem como Dador de Vida Nova.
Todos compreendiam e assumiam que ser Corpo de Cristo é ser continuação de Cristo no mundo como instrumento do seu Espírito.

Lembro-me que, no meu sonho, também chegou a hora de acordar…
Mas acordar não me deixou triste. Arregacei as mangas, esbugalhei os olhos e disse: “É possível! Vale a pena! Está nas minhas mãos! Eu sou Igreja!”
E senti que o próprio Cristo me bateu nas costas e disse: “Até que enfim que posso contar contigo!”
Talvez ainda fosse parte do sonho, mas não interessa. O importante é que compreendi que a Igreja pode ser mais perfeitamente o que está chamada a ser, se eu for mais Igreja.

Desde então, comecei a viver em função deste sonho de uma Igreja Renascida nas Palavras de
Jesus Ressuscitado: “Ide e evangelizai todos os povos… Eu estarei sempre convosco!” (Mt 28, 19-20)

Comecei a perseguir o Espírito, a deixar-me levar por onde me conduzia…

O Espírito mostrou-me que a Igreja já foi mais Igreja de Jesus Cristo do que é hoje…
Mas, acima de tudo, mostrou-me que amanhã está ainda por nascer, Cristo continua a fundar a sua Igreja todos os dias, e hoje precisa de mim…

Não sou perfeito, não sou o melhor… mas estou disponível a ser mais! E é destes que Cristo precisa para realizar este seu sonho que se chama Igreja.
Os perfeitos normalmente andam ocupados, os melhores estão longe… resto eu, que estou disponível.
E tu, amigo… Sim, também restas tu… se estiveres disponível já seremos dois. Dois!
Estás a ver o sonho a realizar-se?...
Não vês?... Já somos dois…

Olha ao longe e verás.
Olha que tudo pode renascer…

quarta-feira, 29 de abril de 2009

PÁSCOA NA MINHA ALDEIA

Minha aldeia na Páscoa...
Infância, mês de Abril!
Manhã primaveril!
A velha igreja.
Entre as árvores alveja,
Alegre e rumorosa
De povo, luzes, flores...
E, na penumbra dos altares cor-de-rosa .
Rasgados pelo sol os negros véus.
Parece até sorrir a Virgem-Mãe das Dores.
Ressurreição de Deus! (...)
Em pleno azul, erguida
Entre a verde folhagem das uveiras.
Rebrilha a cruz de prata florescida...
Na igreja antiga a rir seu branco riso de cal.
Ébrias de cor, tremulam as bandeiras...
Vede! Jesus lá vai, ao sol de Portugal!
Ei-lo que entra contente nos casais;
E, com amor, visita as rústicas choupanas.
É ele, esse que trouxe aos míseros mortais
As grandes alegrias sobre-humanas.
Lá vai, lá vai, por íngremes caminhos!
Linda manhã, canções de passarinhos!
A campainha toca: Aleluia! Aleluia! (...)
Velhos trabalhadores, por quem sofreu Jesus.
E mães, acalentando os filhos no regaço.
Esperam o COMPASSO...
E, ajoelhando com séria devoção.
Beijam os pés da Cruz.
(Teixeira de Pascoaes, «Páscoa na Aldeia»)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

O que é a quaresma?

A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender dos nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.

A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoço para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.

A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.

Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.

Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.

40 dias

A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egipto.

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.

A prática da Quaresma data do século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

FIÉIS DEFUNTOS

Felizes os mortos



O acontecimento da morte nos outros faz-nos pensar na realidade e totalidade da nossa vida, no seu carácter grágico. Mais ainda, quando a morte tocou um daqueles que conosco fez uma parte do seu caminho, caminhou ao nosso lado, tomamos nos braços e ensinamos primeiros passos, ensinamos a dizer Pai Nosso, a situar-se no mundo dum modo fraterno e harmonioso, a falar a linguagem da compreensão e tolerância, a abrir os horizontes às fronteiras do Reino de Deus.
A morte daqueles que estão próximos biológicamente da nossa existência leva-nos a pensar na vida real, dialógica que tornou possível aquela vida. Um novo ser nasce da palavra de duas pessoas que se amaram e na acção biológica cprporizaram o segredo do seu amor: àquilo que meditaram no seu coração. Então, a vida após a morte biológica é a continuação desta vida, é a vida dialógica continuada, muito mais real que a anterior, agora já sem o véu do corpo e na transparência de Deus. Os nossos defuntos caminham ao nosso lado nos caminhos da vida. Sentimo-nos intimamente ligados a eles na comunhão dos santos santos, como aqueles que têm esperança naquela, "vida que não se perde com a última pancada do coração" e que foi guardada para sempre em Deus. e nos torna membros da comunidade, da grande comunhão dos filhos de Deus, em cuja"casa há muitas moradas".
E uma tal herança não há nada que a pague. Tem o preço do coração que se entregue no amor a Deus e aos outros; recebe-se com a ternura do leite materno ou no calor dos braços vigorosos do pai. Por uma tal herança deixada aos filhos mostra que a sua vida não foi em vão, que valeu a pena viver;e nós somos testemunhas disso. Após a sua passagem na terra deixaram o mundo um pouco melhor.
A vida dialógica, para além da biológica, perante a morte de alguém próximo faz-nos pensar num género de orfandade metafórica ou simbólica: o homem é um nó de relações, constrói-se com eles, é relação. E, repentinamente, um destes materiais de construção sai da circulação, deixa de funcionar, é de-funto. Então, uma experiência acontece, trágica; a solidão experimenta-se na carne. Talvez as palavras de Maria junto à cruz a possam dizer: Vede se há dor como a minha dor. Devolve-nos à nossa condição; dispõe-nos à solidariedade, de quem percebe esta linguagem.
Nesta solidariedade, há uma estranha realidade à luz da realidade de Deus, que é Pai e esposo para o povo que escolheu. Como que se dá uma explosão ou estoiro do biológico, e nos vestígios dele o dialógico nascesse. É que um pai ou mãe se tornam irmãos frente aos filhos. E se todos temos parte na construção de todos, de certo modo pais e filhos no aspecto dialógico, nos encaminhamos para a grande realidade, o grande mistério, de que Jesus revela o segredo. "Um só é o vosso Pai, e todos vós sois irmãos". Isso mesmo o dizia certo pai, antes de morrer a sua mulher a propósito da educação de seu filho:"Educa-o e lembra-te de que será teu irmão". Atesta-o Jesus nos evangelhos:"Um só é o vosso Pai e todos vós sois irmãos".
Na ocasião duma morte, nascemos uma segunda vez, pois ficamos entregues a nós próprios; preparamo-nos para construir sózinhos o nosso lugar no mundo. Damo-nos conta, nessa ocasião, do tempo do ser que nos deixou e apreciamos o contributo que eles nos legou em herança. E se esse alguém repentinamente e de forma trágica nos deixa sós?
"Daquilo que não se pode falar, deve guardar-se silêncio", diz Wittgenstein. Mas há realidades, que não cabem nesse paradigma, não são mensuráveis, quantidades. A pessoa, o amor, permitem-nos a esperança, que segundo um filósofo, Gabriel Marcel, nos permite intuir que amar "alguém" é sempre dizer-lhe: tu não morrerás. Acreditar nisso é buscar a presença do meu prolongamento no tu estando ou não presente. "Tu não morrerás; venha o que vier, tu e eu permaneceremos juntos". O outro, que colabora para que seja, sempre está junto comigo, passa a ser uma parte de mim.


O fruto daquela palavra dialógica que os pais trocaram quando ela nasceu. Que o Senhor da vida e da morte dê aos seus familiares, ao dr. Miguel e dra Alzira e ao irmão Pedro a consolação da esperança e a solidariedade dos seus amigos.

Socorrendo-me da palavra dum grande teólogo convido-vos a rezar desta forma: "Senhor, fazei que a minha oração seja o simples eco da palavra de amor que (os defuntos)eles pronunciaram por mim no silêncio da sua eternidade. "Senhor, concedei o repouso eterno, depois da luta da sua vida, àquele que nós amamos realmente em vós mais que nunca e que a vossa luz eterna resplandeça nele como em nós".

TODOS OS SANTOS

Nas mãos de Deus

No dia 01 de Novembro a Igreja Universal celebra a Solenidade de Todos os Santos. É a festa daqueles que se comprometeram com Deus Pai, com o seu Reino de bondade, de justiça e de amor e, em nome Jesus Cristo, se comprometeram de maneira radical, também, com os seus semelhantes. É a festa em que todo o povo cristão é convidado a entrar em comunhão com Deus e com todo o homem de boa vontade.

Porquê este dia?
Porque há santos com nome próprio e de significado universal, que têm um dia assinalado no calendário litúrgico anual, o dia em que morreram. Mas existem muitos outros no santoral e no martirológio, que não se celebram expressamente, porque são mais do que os dias do ano. E, além dos anteriores, há uma multidão de santos “anónimos”, constituída por todos aqueles que chegaram até Deus com uma vida honrada e santa. Então, para comemorá-los todos o papa Gregório IV estabeleceu, no século XI esta festa de Todos os Santos.
Com esta celebração não se trata simplesmente de erigir, na memória, um monumento ou memorial ao santo desconhecido. A intenção da Igreja vai mais longe. Nesta dia a Igreja celebra: a comunhão eclesial com os nossos irmãos, os bem-aventurados: Jesus Cristo, a Virgem Maria, os Apóstolos e os santos com nome próprio ou na lista anónima. A santidade de Deus que resplandece em pessoas de carne e osso. Em homens e mulheres, com qualidades e defeitos como os outros, mas que levaram a sério o seguimento de Cristo. Em pessoas cujo grande milagre da sua vida foi: viver em profundidade a fé, a esperança e a caridade. Homens e mulheres que, simplesmente, foram cristãos verdadeiros.

Também eu posso ser santo?
É verdade!
E para sabermos qual o caminho que devemos percorrer aceitemos o convite, subamos ao monte com Jesus e coloquemo-nos à escuta das palavras de vida que saem dos seus lábios.
É aqui que Jesus nos ensina que a santidade não é um artigo de luxo reservado a um grupo de privilegiados mas um ideal para o qual todos devemos caminhar, independentemente da nossa condição social ou eclesial.
É aqui que aprendemos que a santidade não é uma competição olímpica para bater a marca anterior, mas um caminho contínuo, sem parar nem se desviar, como homens e como mulheres conduzidos pelo Espírito que nos transforma em imagem de Cristo, se nós colaborarmos.
É aqui que nos é transmitido que para ser santo basta ser pobre de espírito ou manso, ser aflito ou ter fome e sede de justiça e nessa condição contar apenas com o auxílio de Deus. Esperar d’Ele e só d’Ele o auxílio e a protecção.
É aqui que nos é transmitido que a santidade também se atinge quando o ser humano pela sua profunda adesão a Deus e ao Seu reino presta ao seu próximo um serviço gratuito e desinteressado. Quando o ser humano, esvaziado do seu próprio eu, escolhe um projecto de vida em que os interesses pessoais passam para segundo plano e faz frutificar os seus dons e talentos no serviço ao próximo sendo misericordiosos, puros de coração, construtores de paz, promotores da justiça…
É aqui que se diz: Queres ser santo? Abre-te ao conhecimento da Pessoa de Jesus Cristo, ama-A e deixa-te amar por Ela pois o encontro pessoal com Cristo ilumina a vida com uma nova luz, orienta-nos pelo bom caminho e leva-nos a ser suas testemunhas, leva-nos a ser santos.